Muito pouca gente sabe que as estações do ano desempenham um papel significativo em decisões cruciais, afetando nossa saúde física e mental, bem como nossas perspectivas futuras. O calendário de feriados, também.
Embora não sejamos iguais, há padrões que se repetem quando se trata de determinar os melhores horários para tomar importantes decisões de relacionamento.
Nos Estados Unidos, quase 40% dos noivados acontecem nos dois meses e meio entre o Dia de Ação de Graças (23 de novembro) e o Dia dos Namorados (14 de fevereiro, no calendário americano), de acordo com uma pesquisa realizada com 18 mil pessoas. Dezembro, em particular, é o mês mais popular para pedir alguém em casamento – sendo a data favorita a véspera de Natal.
Um terço dos homens de outro levantamento, que envolveu 10 mil pessoas, disse que dezembro era o melhor momento para pedir suas namoradas em casamento.
Mas as mulheres parecem não concordar. O mesmo estudo revelou que a data favorita entre as mulheres era o Dia dos Namorados, com 23% dos votos. Infelizmente para elas, a pesquisa constatou que apenas 12% dos pedidos realmente aconteceram nessa data.
Por outro lado, a véspera de Natal (a favorita dos homens) foi a data mais comum, com 31% dos pedidos feitos. A véspera de Ano Novo foi a segunda data mais popular, seguida pelo primeiro dia do ano e depois pelo aniversário de quando o casal se conheceu pela primeira vez.
Embora algumas pesquisas mostrem que o período de festas é o mais popular, não se sabe definitivamente qual é o melhor momento para fazer o pedido – não há evidências claras de que sua data de noivado tenha impacto na qualidade ou na duração do seu casamento. E, infelizmente, tampouco há dados sobre a época do ano em que sua cara-metade tenha maior probabilidade de dizer “sim” ao seu pedido.
Mas e se seu grande amor disser “sim”? Então, é hora de definir a data do casamento.
Existem vários fatores a serem levados em conta. Um é o gasto – a época mais popular para se casar nos Estados Unidos é no outono, enquanto que no Reino Unido é no verão. Em 2017, nos EUA, os meses mais populares para casamento foram setembro (16%), junho (15%) e outubro (14%), de acordo com uma pesquisa com 13 mil noivas e noivos do site de planejamento de casamentos The Knot.
Escolher uma data fora desses períodos provavelmente resultará em um bom negócio, o que pode ser importante por mais motivos do que sua conta bancária. Um estudo com 3 mil casais nos EUA descobriu que aqueles que tiveram uma cerimônia de casamento mais barata eram mais propensos a ter casamentos mais longos.
Depois de analisar dados demográficos e de relacionamento, os pesquisadores descobriram que aqueles em casamentos mais duradouros também gastaram menos em seu anel de noivado.
Mas o estudo foi apenas observacional, ou seja, os autores não puderam tirar nenhuma conclusão sobre causa e efeito. Em outras palavras, casar-se em janeiro talvez não ajude os casais a permanecerem juntos por mais tempo. Ter um casamento mais barato pode ser apenas um sinal da saúde do relacionamento – talvez o casal não sinta a necessidade de “provar” seu relacionamento aos outros por meio de uma grande festa, ou está focado em prioridades de longo prazo que poderiam sinalizar um compromisso mais profundo.
O próximo fator na hora de escolher a data do casamento é a sua idade e a de seu cônjuge. Quem se casa entre os 28 e 32 anos tende a continuar junto cinco anos depois, segundo um estudo realizado pelo sociólogo Nick Wolfinger, da Universidade de Utah, nos Estados Unidos.
Analisando dados de mais de 9 mil pessoas, Wolfinger descobriu que “a partir dos 28 anos e antes dos 32 anos, um ano a mais no momento do casamento reduz as chances de divórcio em 11%. No entanto, depois dessa idade, elas aumentam 5% ao ano”, diz ele.
A conclusão é basicamente a seguinte: Quando somos jovens, estamos em constante transformação. Sendo assim, casar muito cedo pode levar a tensões ou mesmo fazer com que os cônjuges se distanciem no futuro.
Por outro lado, quem se casa mais tarde pode estar menos comprometido com a instituição do casamento, especula Wolfinger. Isso porque essas pessoas podem ser “naturalmente rabugentas” e ter problemas com seus relacionamentos pessoais, o que amplia as chances de divórcio.
Como não há nenhuma evidência causal para provar essa relação, casar-se entre 28 e 32 anos provavelmente não o deixará imune a uma possível separação.
Mas e se não der certo – qual é o melhor mês para se divorciar?
Nos EUA, um estudo realizado no Estado de Washington descobriu que havia dois picos de pedidos de divórcio, em março e em agosto . A razão por trás disso, dizem os responsáveis pela pesquisa, é que os casais esperam as férias acabarem para comunicar a separação. Os períodos de descanso são “momentos carregados simbolicamente” quando o pedido de divórcio é muitas vezes visto como inadequado, explicam. Ou talvez seja mesmo impraticável, pois os advogados de família também estão fora do escritório.
Mas, uma vez que todos estão de volta ao batente, os pedidos de divórcio aumentam. A razão pela qual o pico pós-inverno acaba adiado até março, sugerem os autores, é que os casais podem demorar um pouco para arrecadar o dinheiro necessário para contratar um advogado.
Além do Estado de Washington, os advogados de família americanos relatam um aumento no número de casais que buscam terminar seus casamentos em janeiro. Não se sabe o que está por trás dessa preferência, mas poderiam ser os efeitos combinados do final do período de férias e os habituais desejos de Ano Novo para um “novo começo”.
Ou poderia ser uma razão mais prosaica: pelo menos nos EUA, esperar até janeiro significa vantagens fiscais. Os divórcios geralmente demoram um ano para serem concluídos, portanto, pedi-lo em janeiro pode aumentar as chances de remeter sua declaração de imposto de renda ao fisco como pessoa solteira.
Mas não há dados que associem o melhor momento para pedir o divórcio e a rapidez com que se recupera dele.
E na hora de aumentar a família? Os aniversários podem parecer aleatórios – mas, de fato, há meses mais populares (e, de certa forma, melhores) do ano para dar à luz.
Vamos começar pela fertilidade. A qualidade e a concentração do esperma de um homem são fatores importantes, e vários estudos mostraram que os espermatozoides são mais saudáveis na primavera do que em qualquer outra época do ano.
Uma pesquisa, apresentada na conferência da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva no Estado americano de Denver, no ano passado, analisou amostras de esperma coletadas durante um período de 17 anos de 29 mil homens nos EUA.
Os homens tiveram o maior número de espermatozoides de alta motilidade (movimento) durante a primavera – 117 milhões por mililitro. Os níveis mais baixos foram no verão, 112 milhões. E o outono era a estação do ano na qual esses homens tinham o maior número de espermatozoides sem deficiência morfológica – outra medida de qualidade espermática. Outro estudo com 12.245 homens na Suíça descobriu que a concentração de espermatozoides também era mais alta na primavera e menor no verão.
E as amostras coletadas pela manhã tinham uma maior concentração de espermatozoides e uma proporção de espermatozoides com formato normal maior do que aqueles obtidos no final do dia.
“A primavera é melhor para o esperma porque demora cerca de três meses para que o esperma seja produzido do início ao fim”, diz Allan Pacey, professor de andrologia da Universidade de Sheffield, que não participou de nenhum dos estudos. Os espermatozoides que estão sendo ejaculados na primavera estavam começando a vida em torno do Natal, quando está mais frio”.
Temperaturas frias são boas para os espermatozoides, o que poderia indicar por que a qualidade do espermatozoide tem um pico nesse momento. Mas outros fatores, como a duração do dia, também desempenham um papel significativo na fertilidade humana. Em outros mamíferos – como ovelhas e vacas – o número de horas com que ficam expostos à luz exerce uma forte influência sobre sua fertilidade, aumentando as chances de sobrevivência de seus filhotes no primeiro inverno. É possível que a luz do dia também possa ter um efeito similar em humanos, diz Pacey. Os longos dias de verão estariam ligados, assim, à baixa fertilidade.
Outra razão pela qual a qualidade do esperma pode ser baixa no verão, diz Pacey, é porque fazemos menos sexo. Vários estudos descobriram que, enquanto a abstinência aumenta o número de espermatozoides, também modifica a morfologia deles, impactando sua locomoção e seu DNA. Sexo frequente, por outro lado, resulta em espermatozoides melhores: eles se locomovem mais rapidamente, têm menos defeitos em seu DNA e resultam em taxas de gravidez maiores.
Mas as mudanças observadas nesses estudos, embora significativas, não devem ser usadas para determinar o calendário para as mulheres tentarem engravidar, diz Pacey. “Uma pequena mudança na qualidade dos espermatozoides não significa necessariamente chances menores de alcançar a gravidez.”
Já analisamos a melhor época do ano para engravidar. Mas qual é a melhor para seu bebê nascer?
Conceber na primavera, por volta de março ou abril, pelo menos no hemisfério norte, levaria a mulher a dar à luz em dezembro ou janeiro. Mas a melhor época para nascer é, na verdade, alguns meses antes – em setembro. Curiosamente, setembro também é o mês mais comum para aniversários nos EUA e no Reino Unido.
As crianças britânicas nascidas em setembro tendem a obter melhores resultados em provas do que aquelas nascidas em agosto e têm melhores habilidades cognitivas, de acordo com pesquisa do Instituto para Estudos Fiscais, um centro de estudos do Reino Unido.
As crianças nascidas em agosto, por outro lado, eram duas vezes mais propensas a ser vítimas de bullying na escola primária, 20% mais propensas a ter qualificações vocacionais do que a acadêmicas aos 16-18 anos, e 20% menos propensas a frequentar uma universidade de primeira linha. Esses efeitos estavam presentes independentemente do status socioeconômico da família, sugerindo que o efeito é difuso e difícil de mudar.
Posteriormente, os pesquisadores descobriram que esse efeito não tinha nada a ver com as estações do ano – o mesmo resultado foi observado em todos os hemisférios, da Austrália ao Chile e do Japão aos EUA. Em vez disso, o que todos esses países têm em comum é o início do ano acadêmico. As habilidades cognitivas das crianças eram muito melhores se fossem nascidas em setembro, porque geralmente eram as mais velhas entre seus colegas de turma. As crianças nascidas em agosto tendiam a ser as mais novas.
Esse efeito permaneceu durante toda a vida escolar. Aos oito anos de idade, as crianças nascidas em setembro tinham um maior senso cognitivo em relação aos seus colegas de classe. Já o inverso se aplicava àquelas nascidas em agosto.
Nascer no outono também pode aumentar sua longevidade. Um estudo com cerca de 1,6 mil centenários nos EUA revelou que as pessoas nascidas entre setembro e novembro têm maior probabilidade de viver até 100 do que aquelas nascidas em março. Isso pode estar relacionado a deficiências nutricionais durante a gravidez ou a sazonalidade das infecções.
Nas regiões temperadas, os bebês nascidos no outono não atravessam temperaturas extremas logo após o nascimento, o que pode ter consequências surpreendentemente profundas para a saúde na vida adulta. Um estudo realizado no Reino Unido com mais de 4 mil mulheres descobriu que as temperaturas mais baixas no inverno ao nascer estavam vinculadas a um maior risco de doença coronariana, resistência à insulina e baixa função pulmonar na velhice.
As mulheres nascidas no trimestre mais frio do ano (com base nas temperaturas reais no ano de nascimento) tinham uma probabilidade 24% maior de desenvolver doença cardíaca coronariana do que aquelas nascidas nos outros três trimestres do ano. A associação foi mais forte para aquelas cujos pais estavam desempregados ou desempenhavam empregos manuais, indicando que o efeito pode estar nas famílias que lutam para aquecer suas casas adequadamente.
Gostamos de pensar que cada pessoa é única. Mas os estudos mostram que nossas decisões são influenciadas por fatores externos. Alguns deles parecem incidentais, como o calendário de feriados. Outros parecem ser um produto de nossa biologia, como as temperaturas mais amenas da primavera.
E, como mostra o “efeito de setembro”, a combinação desses dois fatores produz tendências mais robustas. Quando é o melhor momento para se casar? Ter filhos? Ou até mesmo se divorciar?